8  Funções

8.1 Definições básicas relacionadas com funções

Definição 8.1 Sejam \(A\) e \(B\) conjuntos. Uma função de \(A\) em \(B\) é uma relação \(R\subseteq A\times B\) tal que

  1. \(\forall a\in A:(\exists b\in B: aRb)\);
  2. Se \(aRb_1\) e \(aRb_2\) com algum \(a\in A\) e \(b_1,b_2\in B\), então \(b_1=b_2\).

Em outras palavras, \[ \forall a\in A:(\exists b\in B\mbox{ único }:aRb). \] O quantificador “existe único” é frequentamente denotado pelo símbolo “\(\exists!\)”. Usando esta notação, pode-se escrever que \[ \forall a\in A:(\exists! b\in B:aRb). \] Quando \(R\subseteq A\times B\) é uma função e \(aRb\), então escrevermos que \(b=R(a)\) ou às vezes que \(R:a\mapsto b\). Nós frequentemente usamos as palavras, mapa, mapeamento, aplicação, correspondência em vez de função.

Exemplo 8.1 Seja \(A=\{1,2,3\}\) e \(B=\{1,3,5,7\}\). As seguintes relações são funções: \[\begin{align*} R_1&=\{(1,3),(2,3),(3,5)\};\\ R_2&=\{(1,3),(2,3),(3,3)\};\\ R_2&=\{(1,3),(2,7),(3,5)\}. \end{align*}\] As seguintes não são funções: \[\begin{align*} R_4&=\{(1,3),(2,3)\};\\ R_5&=\{(1,3),(2,3),(3,3),(2,7)\};\\ \end{align*}\]

Definição 8.2 Se \(R\subseteq A\times B\) é uma função, então escrevemos \(R\) na forma \[ R:A\to B,\quad a\mapsto R(a). \] O conjunto \(A\) é chamado de domínio, o conjunto \(B\) é o codomínio ou contradomínio da função \(R\). A imagem de \(R\) está definida como \[ \mbox{Im}(R)=R(A)=\{R(a)\mid a\in A\}. \]

Quando definimos uma função, precisa-se explictar três coisas:

  1. o domínio da função;
  2. o contradomínio da função;
  3. a correspondência entre os elementos do domínio e os elementos do contradomínio.

Duas funções \(f\) e \(g\) serão consideradas iguais, se os seus domínios são iguais, seus codomínios são iguais, e as correspondências entre o domínio e o codomínio são as mesmas; ou seja \(f(x)=g(x)\) vale para todo elemento \(x\) no domínio.

Por exemplo, falar da “função seno” é ambíguo, pois não se sabe assim o seu domínio e o contradomínio. Por outro lado, as seguntes funções são bem definidas: \[ \sen:\R\to \R,\ x\mapsto \sen x \tag{8.1}\] ou \[ \sen:\R\to [-1,1],\ x\mapsto \sen x. \tag{8.2}\] As funções dadas pelas equações Equação 8.1 e Equação 8.2 serão consideradas distintas; veja também o Exemplo 8.3 abaixo.

Exemplo 8.2 No caso da função \(R_1\) do Exemplo 8.1, escrevemos que \[ R_1:A\to B,\ R(1)=3,\ R(2)=3,\ R(3)=5 \] ou que \[ R_1:A\to B,\ 1\mapsto 3,\ 2\mapsto 3,\ 3\mapsto 5. \] Observe o uso das flechas “\(\to\)” e “\(\mapsto\)”. O domínio de \(R_1\) é o conjunto \(A=\{1,2,3\}\), o contradomínio é \(A=\{1,3,5,7\}\), a imagem de \(R_1\) é \(\{3,5\}\). Note que a imagem é estritamente menor que o contradomínio.

Definição 8.3 Seja \(f:A\to B\) uma função.

  1. A função \(f\) é sobrejetiva (ou sobrejetora) se \(\mbox{Im}(f)=B\). Formalmente, \[ \forall b\in B:(\exists a\in A:b=f(a)). \]
  2. A função \(f\) é injetiva (ou injetora) quando \(f(a_1)=f(a_2)\) implica que \(a_1=a_2\) para todo \(a_1,a_2\in A\).
  3. A função \(f\) é bijetiva (bijetora) se ela é sobrejetiva e injetiva.

Exemplo 8.3 Seja \(\R_+=\{x\in\R\mid x\geq 0\}\). Considere as funções \[ g:\R\to \R,\ g(x)=x^2,\quad f:\R\to \R_+,\ f(x)=x^2. \] As funções \(f\) e \(g\) parecem iguais, mas elas são consideradas diferentes, pois os codimonínios são diferentes. De fato, \(f\) é sobrejetiva, mas \(g\) não é. Se considere a função \[ h:\R_+\to\R_+,\ h(x)=x^2, \] então \(h\) é injetiva e sobrejetiva, então ela é bijetiva.

Exemplo 8.3 explica porque é importante explicitar o domínio e o contradomínio na definição de uma função. Observe também que a função \(\sen\) definida em Equação 8.1 não é sobrejetiva, enquando a função \(\sen\) definida em Equação 8.2 é sobrejetiva. Portanto, não faz sentido perguntar se “a função seno é sobrejetiva?” ou se a “função \(x^2\) é injetiva?”. Precisa esclarecer o domínio e o codomínio para respoder estes tipos de perguntas.

Exemplo 8.4 Se \(A\) é um conjunto qualquer, então a função identidade em \(A\) é a função \[ \mbox{id}_A:A\to A,\ \mbox{id}_A(a)=a. \] A função \(\mbox{id}_A\) é bijetiva.

Exemplo 8.5 Por exemplo, se \(A=\{-1,0,1\}\), então \[ \mbox{id}_A:A\to A,\ -1\mapsto -1,\ 0\mapsto 0,\ 1\mapsto 1. \]

8.2 A composição de funções

Definição 8.4 Sejam \(f:A\to B\) e \(g:B\to C\) funções. Definimos \(g\circ f:A\to C\) como a função \[ g\circ f:A\to C,\quad (g\circ f)(a)=g(f(a))\quad\mbox{para todo }a\in A. \]

Exercício 8.1 Verifique que \(g\circ f:A\to C\) é de fato uma função.

Exemplo 8.6 Assuma que \(A=\{1,2,3\}\), \(B=\{3,4\}\), e \(C=\{2,4,6,8\}\). Sejam \[ f:A\to B,\quad 1\mapsto 3,\ 2\mapsto 3,\ 3\mapsto 4 \] e \[ g:B\to C,\quad 3\mapsto 6,\ 4\mapsto 2. \] Então \[ g\circ f:\{1,2,3\}\to \{2,4,6,8\},\quad 1\mapsto 6,\ 2\mapsto 6,\ 3\mapsto 2. \]

Exemplo 8.7 Sejam \[ f:\R\to [-1,1],\ f(x)=\sen x\quad\mbox{e}\quad h:[-1,1]\to [0,1],\ h(x)=x^2. \] Então a composição destas duas funções é a função \[ g\circ f:\R\to [0,1],\ (g\circ f)(x)=\sen^2(x). \]

Lema 8.1 Sejam \(f:A\to B\), \(g:B\to C\), \(h:C\to D\) funções. Então

  1. \(h\circ (g\circ f)=(h\circ g)\circ f\);
  2. \(f\circ \mbox{id}_A=f\);
  3. \(\mbox{id}_B\circ f=f\).

Comprovação.

  1. Note que o domínio de \(h\circ (g\circ f)\) e de \((h\circ g)\circ f\) é o conjunto \(A\) e o codomínio de ambas é \(C\). Então precisa provar que \((h\circ (g\circ f))(a)=((h\circ g)\circ f)(a)\) para todo \(a\in A\). Isso segue, pois \[ (h\circ (g\circ f))(a)=h((g\circ f)(a))=h(g(f(a))) \] e \[ ((h\circ g)\circ f)(a)=(h\circ g)(f(a))=h(g(f(a))). \]

  2. Note que \(f\circ \mbox{id}_A:A\to B\). Precisa provar então que \((f\circ \mbox{id}_A)(a)=f(a)\) para todo \(a\in A\). Isso segue, pois \[ (f\circ \mbox{id}_A)(a)=f(\mbox{id}_A(a))=f(a). \]

  3. Use o argumento na demonstração de 2.

Lema 8.2 Sejam \(f:A\to B\) e \(g:B\to C\) funções.

  1. Se \(g\circ f:A\to C\) é sobrejetiva, então \(g\) é sobrejetiva.
  2. Se \(g\circ f:A\to C\) é injetiva, então \(f\) é injetiva.

Comprovação.

  1. Assuma que \(g\circ f:A\to C\) é sobrejetiva. Seja \(c\in C\). Precisa provar que existe \(b\in B\) tal que \(g(b)=c\). Sabendo que \(g\circ f\) é sobrejetiva, existe \(a\in A\) tal que \[ c=(g\circ f)(a)=g(f(a)). \] Logo, tomando \(b=f(a)\), temos que \(g(b)=g(f(a))=c\). Ou seja, \(g\) é sobrejetiva.

  2. Assuma que \(a_1,a_2\in A\) tal que \(f(a_1)=f(a_2)\). Precisamos provar que \(a_1=a_2\). Primeiro, observe que \[ (g\circ f)(a_1)=g(f(a_1))=g(f(a_2))=(g\circ f)(a_2). \] Sabendo que \(g\circ f\) é injetiva, isso implica que \(a_1=a_2\) e que \(f\) é injetiva.

8.3 Funções inversas

Definição 8.5 Seja \(f:A\to B\) uma função.

  1. Uma função \(g:B\to A\) é dita inversa de \(f\) à esquerda se \(g\circ f=\mbox{id}_A\).
  2. Uma função \(g:B\to A\) é dita inversa de \(f\) à direita se \(f\circ g=\mbox{id}_B\).
  3. Uma função \(g:B\to A\) é dita inversa de \(f\) se \(g\circ f=\mbox{id}_A\) e \(f\circ g=\mbox{id}_B\). Neste caso, dizemos que \(f\) é invertível.

Exemplo 8.8 Seja \(A=\{1,2,3\}\) e \(B=\{4,5\}\). Considere as funções \[ f:A\to B,\ 1\mapsto 4,\ 2\mapsto 4,\ 3\mapsto 5 \] e \[ g:B\to A,\ 4\mapsto 1,\ 5\mapsto 3. \] Calculando que \[ (f\circ g)(4)=f(g(4))=f(1)=4\quad \mbox{e}\quad (f\circ g)(5)=f(g(5))=f(3)=5 \] obtemos que \[ f\circ g=\mbox{id}_B. \] Ou seja \(g\) é inversa à direita de \(f\) e \(f\) é inversa à esquerda de \(g\). Note que \(g\) não é a única inversa à direita de \(f\); de fato, definindo \[ g_1:B\to A,\ 4\mapsto 2,\ 5\mapsto 3. \] é também inversa à direita de \(f\). Similarmente, \[ f_1:A\to B,\ 1\mapsto 4, 2\mapsto 5,\ 3\mapsto 5 \] é também inversa à esquerda de \(g\). O leitor pode verificar que nem \(f\), nem \(g\) possuem inversas.

Note que no Exemplo 8.8, as inversas existem pois \(f\) é sobrejetiva e \(g\) é injetiva. Por outro lado, estas funções não são bijetivas, e não têm inversas.

Lema 8.3 Seja \(f:A\to B\) uma função. Então

  1. \(f\) tem inversa à direita se e somente se \(f\) é sobrejetiva.
  2. \(f\) tem inversa à esquerda se e somente se \(f\) é injetiva.
  3. \(f\) tem inversa se e somente se \(f\) é bijetiva. Ou seja, uma função \(f\) é invertível se e somente se ela é bijetiva.

Comprovação.

  1. Assuma que \(f\) possui inversa \(g\) à direita. Então \(f\circ g=\mbox{id}_B\). Como \(\mbox{id}_B\) é sobrejetiva, temos, por Lema 8.2 que \(f\) é sobrejetiva. Vice versa, assuma que \(f:A\to B\) é sobrejetiva. Defina \(g:B\to A\) na seguinte maneira. Se \(b\in B\), então existe \(a_b\in A\) tal que \(f(a_b)=b\) (pois, \(f\) é sobrejetiva). Escolha um tal \(a_b\) para todo \(b\) (pode existir vários) e defina \(g(b)=a_b\). Então temos, para \(b\in B\), que \[ (f\circ g)(b)=f(g(b))=f(a_b)=b. \] Ou seja, \(f\circ g=\mbox{id}_B\) e \(g\) é inversa à direita de \(f\).

  2. Assuma que \(f\) tem inversa \(g\) à esquerda. Então \(g\circ f=\mbox{id}_A\). Como \(\mbox{id}_A\) é injetiva, temos que \(f\) é injetiva por Lema 8.2. Vice versa, assuma que \(f\) é injetiva. Defina a função \(g:B\to A\) na seguinte forma. Se \(a\in A\), então existe único \(b\in B\) tal que \(f(a)=b\). Além disso, para este \(b\in B\), \(a\in A\) é o único elemento tal que \(f(a)=b\) (pois \(f\) é injetiva). Portanto, pode-se definir \(g(b)=a\) para \(b\in\mbox{Im}(f)\). Se \(b\not\in\mbox{Im}(f)\), escolhe algum elemento arbitrário \(a\in A\) e defina \(g(b)=a\). Neste caso, \[ (g\circ f)(a)=g(f(a))=g(b)=a. \] Ou seja, \(g\circ f=\mbox{id}_A\) e \(g\) é inversa à esquerda de \(f\).

  3. Se \(f\) tem inversa \(g\), então \(g\) é inversa de \(f\) à direita e à esquerda. Portanto, pelos itens 1.-2., \(f\) é sobrejetiva e também injetiva. Portanto, \(f\) é bijetiva.

Definição 8.6 Se \(f:A\to B\) é uma função e \(g:B\to A\) é inversa de \(f\), então escrevemos que \(g=f^{-1}\).

8.4 Um exemplo de GAAL

Exemplo 8.9 Considere o espaço \(\R^2\) de vetores colunas \(\begin{pmatrix} x\\ y\end{pmatrix}\) e seja \(A\) uma matriz \((2\times 2)\). Defina a função \[ f_A:\R^2\to \R^2,\quad f_A\begin{pmatrix} x\\ y\end{pmatrix}=A\begin{pmatrix} x\\ y\end{pmatrix} \] (multiplicação matricial).

Assuma que \(A\) é uma matriz invertível e seja \(B\) sua inversa. Temos que \(AB=BA=I_2\) onde \(I_2\) é a matriz identidade \((2\times 2)\). Neste caso \[ f_B\circ f_A:\R^2\to \R^2,\quad (f_B\circ f_A) \begin{pmatrix} x\\ y\end{pmatrix}=f_B\left(f_A\begin{pmatrix} x\\ y\end{pmatrix}\right)=BA\begin{pmatrix} x\\ y\end{pmatrix}=I_2\begin{pmatrix} x\\ y\end{pmatrix}=\begin{pmatrix} x\\ y\end{pmatrix}. \] Similarmente, \[ f_A\circ f_B:\R^2\to \R^2,\quad (f_A\circ f_B) \begin{pmatrix} x\\ y\end{pmatrix}=f_A\left(f_B\begin{pmatrix} x\\ y\end{pmatrix}\right)=AB\begin{pmatrix} x\\ y\end{pmatrix}=I_2\begin{pmatrix} x\\ y\end{pmatrix}=\begin{pmatrix} x\\ y\end{pmatrix}. \] Portanto \(f_B\circ f_A=f_A\circ f_B=\mbox{id}_{\R^2}\). Ou seja, \(f_A\) é invertível e sua inversa é \(f_B=f_{A^{-1}}\).

Assuma agora que \(A\) é uma matriz não invertível (singular) e considere a função \(f_A:\R^2\to \R^2\). Assuma que \[ A=\begin{pmatrix} a & b \\ c & d\end{pmatrix}. \] Sabemos de GAAL que o sistema \[\begin{eqnarray*} ax+by&=0\\ cx+dy&=0 \end{eqnarray*}\] tem infinitas soluções. Se \(\begin{pmatrix} x\\ y\end{pmatrix}\) é uma solução deste sistema, então \[ f_A\begin{pmatrix} x\\ y\end{pmatrix}=\begin{pmatrix} 0\\ 0\end{pmatrix}. \] Em particular, \(f_A\) não é injetiva. Similarmente, aprendemos também em GAAL que existe \(\begin{pmatrix} b_1\\ b_2\end{pmatrix}\in\R^2\) tal que o sistema \[\begin{eqnarray*} ax+by&=b_1\\ cx+dy&=b_2 \end{eqnarray*}\] não possui solução. Neste caso \(\begin{pmatrix} b_1\\ b_2\end{pmatrix}\in\R^2\setminus\mbox{Im}(f_A)\) e \(f_A\) não é sobrejetiva. Ou seja, assumindo que \(A\) é uma matriz não invertível, \(f_A\) não tem nem inversa à direita nem inversa à esquerda.

8.5 Restrição de \(f\)

Definição 8.7 Seja \(f:A\to B\) uma função e \(C\subseteq A\). Definimos a restrição de \(f\) para \(C\) como a função \[ f|_C:C\to B,\quad c\mapsto f(c)\quad\mbox{para todo }c\in C. \]

Exemplo 8.10 Considere a função \(\sen:\R\to [-1,1]\). A função \(\sen\) é sobrejetiva, mas não é injetiva, pois \(\sen(0)=\sen(\pi)=0\).

A função \(\sen\)

Por outro lado, pode-se considerar a restrição \[ \sen|_{[-\pi/2,\pi/2]}:[-\pi/2,\pi/2]\to [-1,1]. \]

A restrição da função \(\sen\)

A função \(\sen|_{[-\pi/2,\pi/2]}:[-\pi/2,\pi/2]\to[-1,1]\) é injetiva e sobrejetiva, em particular, ela é invertível. A sua inversa é a função \[ \mbox{arcssen}:[-1,1]\to [-\pi/2,\pi/2]. \]

A função \(\mbox{arcsen}\)

8.6 Imagens e pré-imagens

Definição 8.8 Seja \(f:A\to B\) uma função.

  1. Se \(X\subseteq A\), então a imagem de \(X\) por \(f\) está definida por \[ f(X)=\{f(x)\mid x\in X\} \]
  2. Se \(Y\subseteq B\), então a pré-imagem de \(Y\) por \(f\) está definida por \[ f^{-1}(Y)=\{a\in A\mid f(a)\in Y\}. \] Note que \(f(X)\subseteq B\) e \(f^{-1}(Y)\subseteq A\). Note também a escrever \(f^{-1}\) não indica que \(f\) é invertível! A pré-imagem está definida para funções que não necessariamente são invertíveis.

Exemplo 8.11 Seja \(A=\{1,2,3,4\}\), \(B=\{2,4,6,8\}\) e \[ f:A\to B,\quad 1\mapsto 2,\ 2\mapsto 2,\ 3\mapsto 6,\ 4\mapsto 8. \] Então temos as seguintes imagens e pré-imagens:

  1. \(f(\{1,2\})=\{2\}\);
  2. \(f(\{3\})=\{6\}\);
  3. \(f(\{1,2,3\})=\{2,6\}\);
  4. \(f(\emptyset)=\emptyset\)
  5. \(f(A)=\mbox{Im}(f)=\{2,6,8\}\);
  6. \(f^{-1}(\{2\})=\{1,2\}\);
  7. \(f^{-1}(\{4\})=\emptyset\);
  8. \(f^{-1}(\{2,6\})=\{1,2,3\}\).

Note que \(f^{-1}(\{y\})\) pode ser também escrito como \(f^{-1}(y)\). Por exemplo, \(f^{-1}(2)=\{1,2\}\). Mas é importante observar que \(f^{-1}(2)\) neste contexto não é um elemento, mas um subconjunto do domínio. Nós nesta disciplina vamos escrever \(f^{-1}(\{y\})\) para evitar confusão.

Exemplo 8.12 Considere a função \(\sen:\R\to[-1,1]\). Temos as seguintes imagens e pré-imagens:

  1. \(f([0,\pi])=f([0,\pi/2])=[0,1]\);
  2. \(f([-\pi/2,\pi/2])=[-1,1]\);
  3. \(f^{-1}(\{0\})=\{k\pi\mid k\in\Z\}\);
  4. \(f^{-1}(\{1\})=\{\pi/2+2k\pi\mid k\in\Z\}\);
  5. \[ f^{-1}([0,1])=\cdots \cup[-2\pi,-\pi]\cup[0,\pi]\cup[2\pi,3\pi]\cup\cdots =\bigcup_{k\in\Z}[2k\pi,(2k+1)\pi]. \]

8.7 Pré-imagens na natureza

Vamos considerar dois exemplos de pré-imagens que aparecem nas disciplinas GAAL e Cálculo I.

Exemplo 8.13 Considere a função \(f:\R^2\to \R\) definida por \(f(x,y)=x+y\). É fácil verificar que \(f\) é sobrejetiva, mas não é injetiva. Vamos determinar \(f^{-1}(\{0\})\). Note que \[ f(x,y)=0\quad\mbox{se e somente se}\quad x+y=0. \] Então \(f^{-1}(\{0\})\) é composta dos pontos \((x,y)\in\R^2\) no plano tal que \(x+y=0\). Note que estes pontos formam uma reta no plano \(\R^2\) ilustrada como a reta azul no seguinte desenho.

A reta x+y=0

O que é a pré-imagem \(f^{-1}(\{a\})\) com algum \(a\in\R\) arbitrário? Neste caso temos que \((x,y)\in f^{-1}(\{a\})\) se e somente se \(x+y=a\). Estes pontos também formam uma reta paralela com a reta azul no desenho anterior que passa pelo ponto \((0,a)\). Por exemplo, \(f^{-1}(\{-1\})\) é ilustrado no seguintes desenho.

A reta x+y=-1

Obtevemos que a pré-imagem \(f^{-1}(a)\) é a reta com a equação geral \(x+y=a\) e as pré-imagens são as retas paralelas com a reta cuja equação geral é \(x+y=0\)

Exemplo 8.14 Seja \(P\) o conjunto das funções polinomiais \(\R\to\R\); mais precisamente, \[ P=\{f:\R\to\R\mid f(x)=a_nx^n+\cdots+a_1x+a_0\mbox{ com $n\geq 0$ e $a_i\in\R$}\}. \] Defina a função \[ d:P\to P,\quad d(f)=f' \] onde \(f'\) é o derivado de \(f\). Denotemos por \(0\) a função constante nula e vamos determinar \(d^{-1}(\{0\})\). Temos que \(f\in d^{-1}(\{0\})\) se e somente se \(f'=0\). Mas sabemos de cálculo que \(f'=0\) vale se e somente se \(f\) é uma função constante. Obtemos então \[ d^{-1}(\{0\})=\{f\in P\mid \mbox{$f$ é constante}\}. \] Vamos determinar \(f^{-1}(\{x+1\})\). Temos que \(f\in f^{-1}(\{x+1\})\) se e somente se \(f'=x+1\). Temos pelas regras do derivado que isso vale se e somente se \(f=(1/2)x^2+x+c\) com algum \(c\in\R\) constante. Obtemos então que \[ d^{-1}(\{x+1\})=\left\{\frac 12x^2+x+c\mid c\in\R\right\}. \] Note que os elementos de \(d^{-1}(f)\) são chamados de primitivos da função \(f\).