Lying over, going down

Seja \(S\) uma \(R\)-álgebra, com morfismo \(\varphi:R\to S\), e seja \(\mathfrak p\in\mbox{Spec}(S)\). Então \(\varphi^{-1}(\mathfrak p)\) pertence ao \(\mbox{Spec}(R)\). Dizemos que o ideal \(\mathfrak p\) está acima de \(\varphi^{-1}(\mathfrak p)\). Quando \(R\subseteq S\) e \(\varphi\) é a inclusão, temos que \(\varphi^{-1}(\mathfrak p)=R\cap \mathfrak p\).

Seja \(R\subseteq S\) uma extensão de anéis onde \(R\) é um anel local com ideal maximal \(\mathfrak p\). Seja \(\mathfrak q\) um ideal primo de \(S\) tal que \(\mathfrak p\subseteq \mathfrak q\cap R\). Então \(\mathfrak q\) está acima de \(\mathfrak p\).
Segue que \(\mathfrak p= \mathfrak q\cap R\) pois \(\mathfrak q\cap R\neq R\) e \(\mathfrak p\) é o único maximal em \(R\).
Seja \(R\subseteq S\) uma extensão integral de anéis, \(\mathfrak p\in\mbox{Spec}(R)\) e \(\mathfrak q_1\subseteq \mathfrak q_2\in\mbox{Spec}(S)\), e \(\mathfrak a\) um ideal arbitrário de \(S\).
  1. Se \(\mathfrak q\) está acima de \(\mathfrak p\) então \(\mathfrak q\) é maximal se e somente se \(\mathfrak p\) é maximal.

  2. Assuma que \(\mathfrak q_1\) e \(\mathfrak q_2\) estão acima de \(\mathfrak p\). Então \(\mathfrak q_1=\mathfrak q_2\).

  3. Existe \(\mathfrak r\) que está acima de \(\mathfrak p\).

  4. Assuma que \(\mathfrak a\cap R\subseteq \mathfrak p\). Então existe \(\mathfrak r\) em (3) tal que \(\mathfrak a\subseteq \mathfrak r\).

(1) Considere o mapa \(\psi:R/\mathfrak p\to S/\mathfrak q\) definida por \(r+\mathfrak p\mapsto r+\mathfrak q\). O mapa \(\psi\) está bem definido e \[\ker\psi=\{r+\mathfrak p\in R/\mathfrak p\mid r+\mathfrak q=0\}.\] Por outro lado, se \(r+\mathfrak q=0\), então \(r\in \mathfrak q\cap R=\mathfrak p\) e \(r+\mathfrak p=0\). Logo \(\psi\) é injetiva. Portanto \(R/\mathfrak p\subseteq S/\mathfrak q\) é uma extensão de anéis. Se \(s\in S\) então \[s^n+\beta_1s^{n-1}+\cdots+\beta_n=0\] com \(\beta_i\in R\) e \[\begin{aligned}
&(s+\mathfrak q)^n+(\beta_1+\mathfrak p)(s+\mathfrak q)^{n-1}+\cdots+(\beta_n+\mathfrak p)\\&=
(s+\mathfrak q)^n+(\beta_1+\mathfrak q)(s+\mathfrak q)^{n-1}+\cdots+(\beta_n+\mathfrak q)\\&=
(s^n+\beta_1s^{n-1}+\cdots+\beta_n)+\mathfrak q=0.
\end{aligned}\]
Portanto, \(R/\mathfrak p\subseteq S/\mathfrak q\) é integral. Por um lema anterior, um é corpo se e somente se outro é.

(2) Assuma primeiro que \((R,\mathfrak p)\) é um anel local. Então \(\mathfrak q_1\) e \(\mathfrak q_2\) são maximais por item (1) e segue que \(\mathfrak q_1=\mathfrak q_2\).

No caso geral, seja \(U=R\setminus\mathfrak p\) e considere as localizações \(R_{(\mathfrak p)}=U^{-1}R\) e \(U^{-1}S\). O mapa de mergulho \(U^{-1}R\to U^{-1}S\) é injetivo, pois se \(r/u\in U^{-1}R\) tal que \(r/u=0/1\in U^{-1}S\) então \(rw=0\) com algum \(w\in R\setminus \mathfrak p\) e \(r/u=0/1\in U^{-1}R\). Então \(U^{-1}R\subseteq U^{-1}S\) é uma extensão de anéis. Afirmamos que, a extensão \(U^{-1}R\subseteq U^{-1}S\) é integral. De fato, se \(s/u\in U^{-1}S\), então \(U^{-1}R[s/u]=U^{-1}R[s]\). Mas \(s\) é integral sobre \(R\) e satisfaz uma equação integral \[s^n+\beta_1s^{n+1}+\cdots+\beta_n=0\] com coeficientes \(\beta_i\in R\). A mesma equação será uma equação integral para \(s/1\) com coeficientes em \(U^{-1}R\). Portanto \(U^{-1}R[s/u]=
U^{-1}[s]\)
é finitamente gerado como \(U^{-1}R\)-módulo e \(s/u\) é integral sobre \(U^{-1}R\).

Como \(U^{-1}R=R_{(\mathfrak p)}\) é local com único ideal maximal \(\mathfrak pU^{-1}R\) e como \(\mathfrak pU^{-1}R\subseteq \mathfrak q_i U^{-1}S\cap U^{-1}R\) para \(i\in\{1,2\}\), e o lema anterior implica que \(\mathfrak q_i U^{-1}S\) está acima de \(\mathfrak pU^{-1}R\). Ora, o parágrafo anterior implica que \(\mathfrak q_1U^{-1}S=\mathfrak q_2U^{-1}S\). Como \(\mathfrak q_i\cap U=\emptyset\), e a correspondência entre os primos em \(\mbox{Spec}(S)\) que interceptam trivialmente com \(U\) e os primos de \(U^{-1}S\) implica que \(\mathfrak q_1=\mathfrak q_2\).

(3) Assuma primeiro que \((R,\mathfrak p)\) é um anel local. O anel \(S\) tem um ideal maximal \(\mathfrak q\) e \(\mathfrak q\cap R\) é maximal por afirmação (1). Logo \(\mathfrak q\cap R\) deve ser igual a \(\mathfrak p\).

No caso geral, considere as localizações \(U^{-1}R\) e \(U^{-1}S\) como na demonstração da afirmação (2). Assuma que \(\mathfrak r'\) é um ideal maximal de \(U^{-1}S\). Então \(\mathfrak r'\cap U^{-1}R\) maximal em \(U^{-1}R\) e portanto \(\mathfrak r'\cap U^{-1}R=\mathfrak pU^{-1}R\). Definimos \(\mathfrak r=\varphi_S^{-1}(\mathfrak r')\). Já monstramos da demonstração da afirmação (2) que o mapa canônico \(U^{-1}R\to U^{-1}S\) é uma inclusão e assim temos o seguinte diagrama comutativo:
\[
\begin{CD}
R @>>> S \\
@V{\varphi_R}VV @VV{\varphi_S}V\\
U^{-1}R @>>> U^{-1}S
\end{CD}\]
Calculando a pré-imagem em \(R\) de \(\mathfrak r'\subseteq U^{-1}S\) pela composição dos mapas das duas maneiras no diagrama, obtemos que \[R\cap \mathfrak r=R\cap \varphi_S^{-1}(\mathfrak r')=\varphi_R^{-1}(\mathfrak r'\cap U^{-1}R)=\varphi_{R}^{-1}(\mathfrak pU^{-1}R)=\mathfrak p\]

(4) Aplique (3) para o extensão \(R/(\mathfrak a\cap R)\subseteq S/\mathfrak a\).

Seja \(R\subseteq S\) uma extensão de anéis e \(f\in R[x]\) um polinômio mônico. Assuma que \(f=gh\) onde \(g,h\in S[x]\) e \(g\) é mônico.
  1. Existe uma extensão \(T\) de \(R\) tal que \(f(x)=\prod (x-x_i)\) em \(T[x]\). Além disso, \(T\) é \(R\)-módulo livre de posto \(d!\) onde \(d=\deg f\).

  2. \(h\) é mônico e os coeficientes de \(g\) e \(h\) são integrais sobre \(R\).

(1) Seja \(R_1=R[x]/(f)\). Então \(R_1\) é gerado por \(1,\bar x,\bar x^2,\ldots,\bar x^{d-1}\). Assuma que \[\alpha_0+\alpha_1\bar x+\cdots+\alpha_{d-1}\bar x^{d-1}\] é uma dependência linear não trivial com \(\alpha_i\in R\). Então \(\bar x\) é raíz do polinômio \[q(x)=\alpha_0+\cdots+\alpha_{d-1}x^{d-1}\] e \(q(x)\mid f(x)\) mas isso é impossível porque \(\deg q(x)<\deg f(x)\) e \(f(x)\) é mônico. Assim \(R_1\) é \(R\)-módulo livre de posto \(d\) e \(R\subseteq R_1\). Ademais, \(f(\bar x)=0\) e \(f(x)=f_1(x)(x-\bar x)\) com \(f_1\in R_1[x]\). Note que \(f_1\) é mônico e \(\deg{f_1}=d-1\). Repetimos o processo para \(f_1\) e no final obtemos \(T\), as raízes \(x_1=\bar x,\ldots,x_d\in T\).

(2) O coeficiente líder de \(f\) é o produto dos coeficientes líderes de \(f\) e \(g\). Como \(f\) é mônico, \(g\) é mônico, obtemos que \(h\) é mônico. Aplicando (1), obtemos uma extensão \(Q_1\) de \(S\) tal que \(g=\prod (x-y_i)\) e uma extensão \(Q_2\) de \(S\) tal que \(h=\prod(x-z_i)\). Os elementos \(y_i\) e \(z_i\) são integrais sobre \(R\), pois são raízes de \(f\). Mas os coeficientes de \(g\) e \(h\) são polinômios em \(y_i\) e \(z_i\) e eles também são integrais sobre \(R\).

Seja \(R\) um domínio normal, \(\mathbb K=\mbox{Frac}(R)\) e \(\mathbb K\subseteq \mathbb L\) uma extensão de corpos. Seja \(y\in\mathbb L\) integral sobre \(R\) e \(f\in\mathbb K[x]\) o polinômio minimal (mônico) de \(y\). Então \(f\in R[x]\) e \(f(y)=0\) é dependência integral.
Como \(y\in \mathbb L\) é integral, existe \(g\in R[x]\) mônico tal que \(g(y)=0\). Pela definição do polinômio minimal, \(f(x)\mid g(x)\) considerados como polinômios em \(\mathbb K[x]\) e escreva \(g=fh\) com \(h\in \mathbb K[x]\). Então os coeficientes de \(f\) são integrais sobre \(R\). Como \(R\) é normal, \(f\in R[x]\).
[ex:prim] Seja \(S\) uma \(R\) álgebra com o mapa \(\varphi: R\to S\). Seja \(\mathfrak p\in\mbox{Spec}(R)\) tal que \(\varphi^{-1}(\mathfrak pS)=\mathfrak p\). Então existe um ideal \(\mathfrak q\in\mbox{Spec}(S)\) tal que \(\varphi^{-1}(\mathfrak q)=\mathfrak p\).
Seja \(R\subseteq S\) uma extensão integral de domínios com \(R\) normal, e \(\mathfrak p\subset \mathfrak q\) primos em \(R\) e \(\mathfrak q'\) um primo em \(S\) que está acima de \(\mathfrak q\). Então existe um primo \(\mathfrak p'\) em \(S\) que está acima de \(\mathfrak p\) e \(\mathfrak p'\subset \mathfrak q'\).
Considere a localização \(S_{(\mathfrak q')}\). Como \(R\) e \(S\) são domínios, temos que \(R\subseteq S\subseteq S_{(\mathfrak q')}\). Primeiro afirmamos que \(\mathfrak pS_{(\mathfrak q)}\cap R=\mathfrak p\). A inclusão \(\mathfrak p\subseteq \mathfrak pS_{(\mathfrak q)}\cap R\) vale trivialmente, então precisa-se provar que \(\mathfrak pS_{(\mathfrak q)}\cap R\subseteq \mathfrak p\).

Seja \(y\in \mathfrak pS_{(\mathfrak q')}\cap R\) com \(y\in R\setminus \mathfrak p\). Assuma que \(y=x/s\) onde \(x\in \mathfrak pS\) e \(s \in S\setminus\mathfrak q'\). Seja \(\mathbb K=\mbox{Frac}(R)\).

Afirmamos primeiro que o polinômio minimal de \(x\) sobre \(\mathbb K\) é um polinômio mônico em \(R[t]\) tal que os coeficientes não líderes percentem a \(\mathfrak p\). Ponha \(x=\sum_{i\leq k} y_ix_i\) onde \(y_i\in \mathfrak p\) e \(x_i\in S\) e seja \(T=R[x_1,\ldots,x_k]\). Então \(x_i\) é integral sobre \(R\) para todo \(i\) e \(T\) é módulo-finito sobre \(R\). Além disso, \[xt=\sum_{i\leq k}y_ix_it\in \sum_{i\leq k} y_iT\subseteq \mathfrak pT\mbox{ para todo }t\in T\] e segeu que \(xT\subseteq \mathfrak pT\). Assuma que \(g(t)\in R[t]\) é o polinômio caraterístico de \(\mu_x:T\to T\) definida pela multiplicação por \(x\). Então \(g(t)\in R[x]\) é um polinômio mônico tal que os coeficientes não líderes de \(g(t)\) pertencem a \(\mathfrak p\) e \(g(x)=0\). O polinômio minimal \(f(t)\) de \(x\) sobre \(\mathbb K\) é um divisor de \(g(t)\) e escreva \(g(t)=f(t)h(t)\) onde \(f\) e \(h\) são mônicos. Pelo Lema [lem:coef_int], \(f(t),h(t)\in R[t]\), pois \(R\) é normal. Além disso, \(g\equiv t^n\pmod{\mathfrak p}\), então \(f\equiv t^r\) e \(h\equiv t^{n-r}\pmod \mathfrak p\) por fatoração única em \(\mbox{Frac}(R/\mathfrak p)[x]\). Assim os coeficientes não líderes de \(f\) e \(h\) são em \(\mathfrak p\). Então a afirmação está provada. Assuma que o polinômio minimal de \(x\) está na forma \[\label{eq:pol_min}
f(t)=t^n+a_1t^{n-1}+\cdots+a_n\in R[t]\]
onde \(a_i\in \mathfrak p\).

Afirmamos que a equação minimal de \(s\) sobre \(\mathbb K\) é \[m(t)= t^n+b_1t^{n-1}+\cdots+b_n=0\mbox{ com }b_i=a_i/y^i\in\mathbb K.\] Substituindo \(s=x/y\) em \(m(t)\) dá zero. Por outro lado, se existir uma equação com \(\ell<n\) na forma \[s^\ell+\beta_1 s^{\ell-1}+\cdots+\beta_\ell=0,\] então a mesma implica que \[x^\ell+\beta_1y_1x^{\ell-1}+\cdots +\beta_\ell y_1^\ell=0\] que seria uma equação integral para \(x\). Mas a equação minimal de \(x\) tem grau \(n\) e assim \(m(t)\) deve ser a equação minimal de \(s\) sobre \(\mathbb K\).

Como \(y\not\in \mathfrak p\), \(b_i\in\mathfrak p\) pois \(a_i=b_iy^i\in\mathfrak p\). Então \(s^n\in\mathfrak pS\subseteq \mathfrak qS\subseteq\mathfrak q'\). Obtemos que \(s\in\mathfrak q'\), que é uma contradição. Assim \(y\in\mathfrak p\) e \(\mathfrak pS_{(\mathfrak q')}\cap R\subseteq\mathfrak p\) e temos que \(\mathfrak pS_{(\mathfrak q')}\cap R=\mathfrak p\) .

Pelo exercício anterior, existe um primo \(\mathfrak p''\subseteq S_{(\mathfrak q')}\) com \(\mathfrak p''\cap R=\mathfrak p\). Além disso, \(\mathfrak p''\subseteq \mathfrak q'R_{(\mathfrak q')}\) pois \(\mathfrak q'R_{(\mathfrak q')}\) é o único maximal. Defina \(\mathfrak p'=\mathfrak p''\cap S\). Então \(\mathfrak p'\cap R=\mathfrak p''\cap S\cap R=\mathfrak p\) e \(\mathfrak p'\subseteq \mathfrak q'\).